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BRUXA ANCESTRAL
BRUXA ANCESTRAL

 

Quem são as bruxas? De onde vem sua tradição? Tanto o senso comum quanto alguns grupos bruxos de tradição celta parecem adotar como referência o ícone da bruxa europeia medieval, um misto de sacerdotisa com xamã. Entretanto, estes mesmos grupos bruxos consideram que as bases da bruxaria medieval são pré-históricas e muitas vezes adotam a veneração a deuses cultuados na antiguidade, portanto dentro do período histórico e anteriores ao período medieval, cabendo ainda salientar que mesmo linhagens genuinamente europeias ocasionalmente cultuam deuses não europeus. O dicionário Aurélio parece apontar especificamente na direção da antiguidade, sugerindo que a palavra bruxa tem origem possivelmente pré-romana, o que nos leva a concluir que o conceito de bruxa veio se alterando ao longo do tempo, bem como as características dos grupos que representavam a bruxaria vieram se transformando. Ademais, em diferentes períodos da história a palavra bruxa foi usada indistintamente para seguidoras de alguma religiosidade pagã, feiticeiras, leitoras de oráculos e curandeiras. Diante de tamanha confusão de conceitos, propomos a seguinte convenção, que doravante adotamos: 1) em sentido estrito, bruxas/bruxos seriam as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que tenham sido elevadas ao terceiro grau da bruxaria. 2) em sentido amplo, bruxas/bruxos seriam: - as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que não tenham sido elevadas ao terceiro grau da bruxaria; - todas as demais pessoas praticantes de técnicas similares às das linhagens iniciáticas europeias mencionadas acima. Com o surgimento da wicca em 1950, que se constitui numa fusão de bruxaria tradicional com magia ritual, e a divulgação pública de alguns princípios da bruxaria promovida pelo fundador da wicca, Gerald Gardner, e seus primeiros iniciados, podemos identificar o início do neo-paganismo. A partir de então, cultos pagãos foram retomados nos moldes originais (reconstrucionismo) e diversos grupos bruxos passaram a agregar informações e técnicas de outras origens a suas crenças e práticas, o que se acelerou com a revolução informacional de fins do século XX.


Método Fundamental

A Bruxaria Ancestral resgata as raízes pré-históricas da bruxaria de um tempo em que todas as formas de religiosidade se confundiam, milhares de anos antes de a ciência, a religião e a filosofia serem consideradas campos distintos. Representada pela Ordem Sagrada de Bennu, entidade cuja linhagem bruxa remonta a tempos imemoriais pela Tradição Ibérica, a bruxaria ancestral agrega conhecimentos de diversas origens, antigos e recentes, formando bruxos em sentido estrito plenamente capazes de aliarem o conhecimento materialista atual à sabedoria ancestral. É anterior ao surgimento das Tradições e, por isso mesmo, a linha que liga todas elas, a chave perdida do significado mais profundo de todas as tradições. Não vem no intuito de substituí-las, mas de contribuir para a construção de uma forma de religiosidade nova e antiga ao mesmo tempo, uma religiosidade que atenda às demandas da civilização que, um dia, sucederá a atual. Alguns grupos bruxos, considerando que religião requer uma estrutura institucional centralizada, dizem que bruxaria não é religião. A Bruxaria Ancestral entende por religião todo e qualquer conjunto de técnicas, práticas ou conhecimentos que se proponham à religação do homem com a(s) deidade(s). Neste sentido, nos classificamos como religião. Além da reintegração da ciência com a filosofia e a religião num só corpo, podemos destacar como nosso método fundamental para religação do ser humano com as deidades a reinserção deste no universo, o que muitos chamariam de reintegração à natureza, mas não com a profundidade e abrangência que nós, bruxos ancestrais, a compreendemos. Aos leigos, podemos resumir muito de nosso ponto de vista na mensagem de que a natureza não pertence ao ser humano, mas o ser humano pertence à natureza.


Princípios

Pode-se dizer que o único valor da Bruxaria Ancestral é a verdade, e sua ética se resume à busca, à defesa, à transmissão e ao exercício da verdade. Não se trata, todavia, de defesa da sinceridade absoluta nem de dogma, sendo o primeiro o conceito mais corriqueiro da palavra verdade e o segundo o conceito abraçado pela maioria das religiões atuais. Da melhor compreensão do conceito de verdade, derivam os demais valores da Bruxaria Ancestral. Obviamente, toda definição do conceito de verdade é presunçosa e incompleta, trazendo junto a si uma parte de ilusão. Desta forma, divulgar um conceito de verdade é também divulgar sua parte de ilusão, o que, paradoxalmente, protelaria a descoberta da verdade. O extremo oposto, a não definição do conceito da verdade, consiste em omissão e contraria a própria razão de ser e significado da Tradição, portanto, qualquer círculo que atue conforme a Bruxaria Ancestral não impõe dogma, mas estabelece linhas gerais de conduta. Ao mesmo tempo, o Sumo-Sacerdote/Sumo-Sacedotisa e/ou o Conselho de Anciãos, se houver, observa em cada adepto o florescimento de atitudes que, conforme seu entendimento, evidenciem avanço no conhecimento da verdade e, na proporção de tal avanço, concede informações adequadas ao patamar atingido pelo adepto em termos de:

 1) esforço pessoal na busca do conhecimento;

 2) exercício prático do que ele entende por verdade. Conhecimento, Divulgação e Exercício da Verdade A verdade está além do conhecimento. Podemos conhecer fatos e compreender teorias, mas o conhecimento precisa ser vivido, sentido, precisa fazer parte do conhecedor para se converter em verdade. Se a verdade for sentida, vivida, se fizer parte de quem sente, é verdade sem precisar ter sido antes conhecimento, mas o conhecimento que ignora fatos e sentimentos jamais poderá ser considerado verdade, não passando de teoria ou presunção. Assim ocorre com os homens de ciência que se negam a considerar fatos que não se encaixam em seus modelos, as chamadas "anomalias"; assim ocorre com os filósofos que criam sistemas mas não os implementam, perdendo-se em intermináveis discussões cujo benefício se limita ao exercício mental; também ocorre com os religiosos que se agarram a dogmas e os colocam em oposição à ciência e a outros credos. Tais atitudes fecham as portas para a verdade, são mentiras que se contam no mais íntimo da mente, como se alguém pudesse crer em algo que parece fazer sentido mas que, posto em prática, não funciona; como se alguém pudesse acreditar em algo que sente que está errado, mesmo fazendo sentido e funcionando; como se alguém, em qualquer momento, tivesse domínio tão amplo da verdade a ponto de poder acusar multidões de estarem completamente erradas em suas respectivas crenças. Em algum lugar de seu íntimo deve viver uma inquietação, sufocada pelo hábito e pelo discurso, escondida no mais profundo com o auxílio de seus pares, que sofrem do mesmo mal. Assim como os povos antigos, a Bruxaria Ancestral não fecha suas portas à verdade nem busca impor verdades pessoais (e, portanto, fragmentárias) como se fossem absolutas. Ao contrário, absorve tudo o que ajudar no processo de conhecimento da verdade e é extremamente flexível a percepções pessoais genuínas. Se o objetivo é chegar à verdade, não podemos partir do princípio de que já a conhecemos em absoluto. Seria, no mínimo, um contrasenso... E àqueles que se consideram detentores da verdade absoluta, o que dizer? Lhes perguntar se o conhecimento absoluto da verdade não é o bastante para convencer seus irmãos "menos privilegiados" de que estão completamente errados em suas respectivas crenças? Questionar se o conhecimento absoluto da verdade não seria o bastante para que sua mera presença na Terra iluminasse a todas as criaturas? Ou ainda lhes perguntar como alguém tão elevado pode estabelecer contato com criaturas tão ignorantes como nós? Melhor não questionar e deixá-los viver suas próprias experiências, pois, cedo ou tarde, elas os levarão a descartar tais ilusões de grandeza e a retomar seus caminhos ao encontro da verdade. A própria ciência chegou à compreensão de que a observação altera o resultado do evento. Como não concluir, então, que nos infinitos processos de conhecimento da verdade haverão infinitas verdades elevadas à potência? Os filósofos, por sua vez, evocariam Platão, nos dizendo que o real não se confunde com o ideal. Concordamos com eles e não vemos conflito, pois é plausível considerar o ideal da dicotomia platônica como a própria verdade, e o real, como o limitado conhecimento da verdade que cada um consegue auferir individualmente, mesmo quando este conhecimento se apresenta em forma incorpórea, como a percepção de cada uma das muitas teorias da ciência, de cada um dos muitos sistemas filosóficos e de cada uma das muitas crenças religiosas. Obviamente, apesar de parciais, as visões sinceras da verdade, ou seja, as que não ignoram fatos e percepções pessoais, devem sempre tender à convergência, e não ao conflito. A única forma de atingir a verdade absoluta, e a isto deveria se render até mesmo a mecânica quântica, seria observador e observado serem um só, o que preteriria o uso de qualquer capacidade sensorial. Portanto, até que atinjamos a perfeição e sejamos absorvidos pelo Todo, toda verdade que evocamos é pessoal e incompleta. Sem a ação coerente com a visão da verdade conquistada e sua divulgação, o conhecimento da verdade se detém e, estagnado, deteriora. Ninguém pode estar verdadeiramente consciente daquilo que não pratica, nem atingiu um dos patamares mais elementares do conhecimento da verdade quem não se apercebeu da importância de passar tal verdade a quem procura e está pronto a aprender o conhecimento obtido. O conhecimento, a divulgação e o exercício da verdade, na Bruxaria Ancestral, se confundem, como tres faces de um mesmo prisma. Livre-Arbítrio Se chegarmos à compreensão de que mesmo um espírito iluminado, um mestre do mais alto grau, tem uma visão limitada da verdade e/ou que não se pode transmitir a visão da verdade de uma pessoa para outra sem grande desgaste do conteúdo, havendo ruídos de toda a espécie em qualquer forma de comunicação, tentar impor uma visão da verdade a quem quer que seja é mera demonstração de ignorância acerca de sua própria ignorância, de incapacidade de aprender, de estagnação ou degenerecência do processo de aprendizagem. Pode-se, e cremos que deve-se, estar plenamente convicto da verdade sem apegar-se a ela e sem presumir que visões aparentemente conflitantes com tal verdade estejam erradas. Na maior parte dos casos, conforme nossa experiência, as divergências entre credos ou teorias são:

 1- semânticas;

 2- preconceituosas;

 3- mero fruto da ignorância mútua de informações/dados pertencentes a áreas de especialização diferentes;

 4- resultado das muitas lacunas entre visões da verdade. O livre-arbítrio como valor, para a Bruxaria Ancestral, assume, portanto, uma dimensão bem maior que a simples "não imposição". Trata-se do reconhecimento de que há alguma verdade no fundo de toda crença sincera, por mais louca que ela aparente ser, e da fixação do veio central de nossa busca na verdade que não conhecemos, e não na preservação da verdade que já conhecemos. Este último pensamento pode parecer estranho à Tradição, mas na verdade tal pensamento se encontrava na base do que viria a se tornar cada uma das muitas tradições, e ao longo do tempo se perdeu. O livre-arbítrio é também observado como a auto-avaliação, o julgamento do próprio executor do ato, levando-o às experiências necessárias para seu crescimento espiritual. Interferir numa escolha pessoal é, portanto, interferir no destino que a pessoa traça para si mesma, é negar uma experiência que a pessoa considera (na maioria das vezes não conscientemente) que precisa viver. O desrespeito ao livre-arbítrio, mesmo sob a mais bem intencionada das bandeiras, é mera ilusão. A imposição se limita à esfera física, ou seja, pode-se obrigar alguém a praticar ou deixar de praticar os ritos de uma religião, ou ainda a deixar de cometer crimes, por exemplo. Mas isto não tornaria o praticante da religião em adepto nem o criminoso numa pessoa com espírito comunitário. O recurso da imposição pode ter efeito prático para a comunidade, mas não para o indivíduo.

 A Bruxaria Ancestral mantém suas portas fechadas, impedindo que aqueles que não estão preparados e/ou não comungam com nossas crenças básicas tenham acesso a nossos conhecimentos; mas todo aquele que estiver preparado e, no exercício consciente de seu livre-arbítrio, escolher comungar com nossa visão da verdade, terá a chance de obter uma chave. A compreensão do livre-arbítrio sob esta óptica nos permite, ao mesmo tempo que fechamos as portas às pessoas que desejam apenas pinçar em nossas fontes informações para uso prático para fins estranhos à nossa visão da verdade, escancará-las a novas idéias, conceitos e práticas, desde que se revelem coerentes com nossa verdade. Assim, a visão que temos pode crescer e se aprofundar, sempre se pautando pelo entendimento, pela concordância, pela aproximação, e não pelo conflito ou divergência. Livre-arbítrio não é escolher entre "certo e errado", livre-arbítrio é traçar seu próprio caminho mesmo quando o caminho escolhido for o de muitos outros. Para a Bruxaria Ancestral não existe certo e errado, existem apenas caminhos mais longos e mais curtos, mas cada um tem o seu caminho a percorrer, todos eles com muitas idas e vindas ao sabor dos ciclos. Por vezes corremos, por vezes andamos lentamente, por vezes tomamos atalhos e depois retornamos para resgatar o que ficou para trás, mas como diria Nitzsche, o homem é uma ponte entre o ultraterreno e o super-homem, e tem de se manter sempre em movimento para não cair desta ponte. Talvez possamos apenas acrescentar que este super-homem que almejamos ser torna-se, a cada passo, diferente, mantendo sua distância de nós até atingirmos a perfeição (e sermos absorvidos pelo Todo). Da mesma forma, o ultraterreno é o modelo ultrapassado, mas a cada passo o ultrapassado se torna outro, e assim se preserva a distância para trás da mesma forma que a para a frente à medida que caminhamos. Dentro desta metáfora, o exercício do livre-arbítrio é o caminhar. Sem ele, podemos ter a ilusão de estarmos seguindo junto com a correnteza, mas na verdade estamos estagnados, estamos cegos, pois o que não é feito sem surgir a partir de seu mais profundo íntimo é feito mecanicamente, e o que é feito mecanicamente não é transportado ao espírito. Se não tomamos as rédeas de nosso destino, se não fazemos escolhas e as delegamos a outrem, seja a um lider espiritual ou a um dogma, não estamos nos aproximando de verdade alguma, nosso corpo se move, temos sensações mas somos sempre os mesmos. É da crítica ao dogma e da tentativa de compreensão do que nos diz o mestre, mesmo quando o mestre é a própria natureza, que surge a luz. Por fim, percebemos quão intimamente relacionados estão o livre-arbítrio e a verdade. Praticar o livre-arbítrio é buscar, se aproximar e concretizar a verdade. Defesa da Ecologia Desde meados do século XX se fala em defesa da ecologia. Os povos antigos preservavam a natureza e, na óptica utilitarista da civilização atual, considera-se que é importante preservar a natureza em função da necessiade de manutenção da sustentabilidade da vida humana na Terra. Ao observarem o quanto alguns povos antigos se preocupavam com a natureza, os cientistas revelam a mesma óptica utilitarista ao repetir em coro que os antigos faziam isto porque se encontravam mais que nós à merce dos fenômenos naturais. Mais um pouco de atenção e perceberiam que não se tratava de preocupação com a sustentabilidade da vida humana ou medo da natureza. Pelo contrário, as mais diversas tradições parecem acusar a existência de respeito e amor pela natureza. Ao longo dos últimos milênios, o ser humano veio criando para si um conceito de ser superior, de ser acima da natureza, e se convenceu de que tal natureza estaria a seu dispor. De fato, havemos de concordar, "a natureza" está ao dispor do homem, mas temos que acrescentar dois pontos:

 1- o homem também está ao dispor "da natureza" ;

 2- o homem pertence à natureza. Ao criar para si um conceito de "ser à parte de todo o resto da criação", o ser humano parece se esquecer que seu corpo se compõe dos mesmos elementos de que se compõem as pedras, os vegetais e os outros animais; não comenta que ao desencarnar devolve à terra o que dela retirou; não pensa sobre o fato de as primeiras células de seu corpo, portanto sua própria origem como ser humano, ter resultado de um mero ato sexual; que o mecanismo que leva o ser humano a causar danos ambientais é o mesmo que leva uma nuvem de gafanhotos, por exemplo, a destruir lavouras; que uma só explosão de um supervulcão, e já houve diversas na pré-história e com certeza ainda haverá no futuro, afeta muito mais danosamente o equilíbrio ambiental do que qualquer coisa que o homem tenha feito até hoje sobre a face da Terra. Se o ser humano tem "algo mais" que os animais, esta é uma longa discussão que não cabe aqui, mas, independente da resposta, permanece o fato de que o ser humano (e este só é ser humano enquanto encarnado) não é mais que uma variável da natureza. A Bruxa Ancestral não "defende a natureza", ela faz parte da natureza. A única diferença em relação a muitas outras crenças é que estamos conscientes disto, portanto, podemos nos situar junto ao resto da criação e nos irmanar tanto com humanos quanto com os demais animais, com vegetais e mesmo com minerais ou poeira cósmica. Aos que reafirmam que a natureza está a nosso dispor, e não nós a seu dispor, como preferimos interpretar, concordamos desde o início que o corpo humano serve ao espírito que nele habita. Se, o que não achamos apropriado, considerarmos uma entidade desencarnada como um homem, negando que ele só é um homem se e quando encarnado num corpo de homem, ou seja, se desvincularmos o espírito do corpo e chamarmos de homem o espírito, então diremos que os elementos do plano físico (inclusive o corpo do homem) servem ao homem (o espírito encarnado), mas jamais diremos que a natureza serve a tal espírito, pois a natureza não se resume ao conjunto dos elementos físicos, ela alcança todos os planos do universo manifesto e engloba as relações entre seus elementos e as leis que a tudo regem. Considerar o ser humano como um ente à parte da natureza limita o campo de busca da verdade ao próprio homem. Integrar-se à natureza, por outro lado, permite ao espírito lançar um olhar para a verdade que está além do alcance do homem.


Festivais

Esbates:

 As três faces da Deusa se apresentam sucessivamente à medida que a Lua cresce e decresce no céu. Assim, ao longo de uma lunação, há o momento de plantar, de colher e de ceifar. A cada Lua Cheia realizamos um esbate para acertarmos o ritmo de nossas vidas com a natureza, mas nada impede que um círculo que adote a Veneração Ancestral, por algum motivo específico, celebre ocasionalmente também alguma outra fase da Lua, muito embora aconselhemos não celebrara Lua Negra (quando a Lua está completamente coberta pela sombra da Terra).

 Sabates:

O intuito de celebrar sabates e esbates é ajustarmo-nos ao movimento da Roda do Ano, ou seja, vivermos em nossas vidas a estação que o resto da natureza vive, a cada momento. Neste sentido, adotar a Roda Egípcia seria ineficaz, pois a cheia e a vazante do Nilo não influem em outras regiões do planeta. Da mesma forma, para quem está no hemisfério sul, celebrar os sabates nas datas celebradas no hemisfério norte não ajudaria a se colocar em fase com o Ciclo da Natureza, pois quando é verão em um hemisfério, é inverno no outro. Optamos, portanto, pela comemoração dos sabates de forma similar à da Roda do Ano Celta e conforme o hemisfério no qual estivermos.

Tempo dos Idos (1º/mai no hemisfério sul e 31/out no hemisfério norte) - O ano bruxo se inicia no frio e escuro meio do outono. Nesta data se celebra o Tempo dos Idos, conhecido pela tradição celta como Samhain. Na verdade, no dia deste sabate se considera que o ano acaba, mas por três dias o outro ainda não começa. E como se passa a estar fora do ano que se foi e o outro ainda não começou, trata-se de um período fora do tempo, onde vivos e mortos, bem como seres naturalmente desprovidos de corpo físico, podem se encontrar.

Festa do Inverno (20 a 23/jun no hemisfério sul e 20 a 22/dez no hemisfério norte) - O sabate seguinte é a festa do inverno, Yule, pela tradição celta, que é comemorado no solstício de inverno, menor dia do ano, mas, justamente por isso, é o momento de renascimento do Sol, ou seja, a partir da celebração de Yule os dias começarão a crescer. É, por assim dizer, o "natal" dos bruxos.

 Festa das Candelárias (1º/ago no hemisfério sul e 2/fev no hemisfério norte) - Na noite que prescede Candelárias, os bruxos carregam velas acesas em procissão, representando a vida que começa a ganhar força sob as neves, a luz que ainda é fraca para afastar o frio e as trevas, mas que já se encontra em seu caminho. É um tempo de renovação das esperanças.

Festa da Primavera (20 a 23/set no hemisfério sul e 20 a 23/mar no hemisfério norte) - Os sinais que, em Candelárias, eram vistos apenas pelos sábios, se tornam visíveis a todos com o equinócio de primavera. A vida já começa a florecer, e os bruxos celebram o efetivo retorno do Sol. É a páscoa dos bruxos, e os elementos que a representam são os mesmos: ovos e lebres, respectivamente símbolos da origem da vida e da fertilidade.

Beltane (31/out no hemisfério sul e 1º/mai no hemisfério norte) - Abrindo a Metade Clara da Roda do Ano. O Sol se encontra jovem e forte, fertilizando os campos e aquecendo nossos sentimentos. De dia, o mastro de maio é levantado e as crianças dançam ao redor dele com fitas coloridas que se entrelaçam. Nas comunidades bruxas, uma música é tocada e uma fila de festejantes entra e sai das casas dançando, levando alegria e boa sorte a todos. À noite, os adultos acendem uma grande fogueira e dançam ao redor dela assim como a Terra gira em torno do Sol. Celebram o calor e o amor, casais se amam ao luar, pulsando a energia da vida que abunda neste dia/noite especial.

 Festa do Sol (20 a 23/dez no hemisfério sul e 20 a 23/jun no hemisfério norte) - No solstício de verão se comemora a plenitude do Sol. O sabate chamado Litha pela tradição celta é caracterizado pela abundância de alimentos, pois se trata da época da primeira colheita. É o momento em que as bruxas colhem suas ervas especiais, pois trazem com elas o máximo que poderiam absorver do poder solar. Embora seja também um momento destinado aos prazeres, ao contrário de Beltane, a Festa do Sol marca o auge e, em conseqüência, o início do declínio do poder solar, pois a partir do solstício de verão os dias começam a se tornar mais curtos. Portanto, deve-se aproveitar a Festa do Sol para marcar firme na lembrança seu maior esplendor e tudo aquilo que ele proporciona, para que, em momentos de dificuldade, tenhamos um horizonte menos sombrio ao olhar para futuro.

 Festa da Cornucópia (2/fev no hemisfério sul e 1º/ago no hemisfério norte) - Conhecido como Lammas, pela tradição celta, na Festa da Cornucópia a mesa é farta, abastecida pela principal safra do ano. Colhem-se os frutos deixados pelo Sol e se comemora a abundância, centrando-se nos prazeres gastronômicos.

 Festa das Graças (21/mar no hemisfério sul e 22/set no hemisfério norte) - No equinócio de outono se comemora a última colheita. A tradição celta chama a este sabate de Mabon. Agradece-se à Deusa e ao Deus pelo que nos proporcionaram e, quem pode, partilha alguns víveres com aqueles que tiveram menos sorte, mas todos nos preparamos para a virada da Roda, pois no sabate seguinte começa a Metade Escura. Os dias já se tornaram menores que as noites, e o Sol, assim como a vida, logo começará uma espécie de período de hibernação.


Prática

A rotina da Bruxaria Ancestral não difere muito da de outras vertentes de Bruxaria Tradicional. Comemoramos sabates e esbates para facilitar caminharmos de acordo com o fluxo da natureza, meditamos e estudamos, visando nossa evolução espiritual e, eventualmente, praticamos diversas modalidades de magia, não para prejudicar outras pessoas, mas para interceder a favor de seu aprendizado e promover o bem comum. Consideramos que, assim como ocorre com a acumulação de qualquer tipo de poder, a responsabilidade de usar a magia é tão grande quanto o poder mágico que se obtém. Poder agir e não agir é tão danoso quanto errar ao agir. Todavia, para julgarmos corretamente se e quando devemos interferir no desenrolar dos fatos, seja através de magia ou não, é preciso observar a questão por uma óptica expandida, ou seja, considerar não o sofrimento imediato da(s) pessoa(s) envolvida(s), mas a utilidade da experiência pela qual ela está passando para seu aprendizado. Tendo isto em mente, é absolutamente inadequado aplicar os conceitos de bem e mal cristãos para decidir quando, como e se devemos intervir no que se passa.

 

Bruxaria: Reeducando para o Renascimento da Velha-Nova Mulher...

Seguindo uma trilha de amor e ódio percorrida pela maioria das mulheres nos últimos dois mil anos, constatamos caminhos de violências em todas as formas: cultural, religiosa, filosófica, enfim, desde a integridade física até a transformação total dos seus valores éticos, da essência do moral feminino até o respeito a si mesma, com seu corpo e sua função divina de procriar, de perpetuar a raça humana. Conceber a alma da mulher hoje é deparar-se com um desafio obscuro. Na realidade, a mulher da atualidade está vivendo uma escravidão de alma. É escrava da sua própria densidade física. Do ego, das coisas da matéria, o que as nossas antepassadas chamariam de Mergulhadoras de Pântanos.

 

Alheia à habilidade natural dos sentidos de preservação sutil, do poder da premonição, da capacidade de transformar-se e gerir energias multiplicadoras de renovação, da força natural da Deusa interior que conduz, protege, e estabelece rumos naturais, que cria metas de paz e felicidade. Ela, a mulher atual, segue pela vida, amarga, ansiosa, dependente de um companheiro quase sempre nem tão companheiro assim. Mergulhada na sua própria incompetência, pobre de metas transformadoras, busca nas sensações meramente físicas, quase sempre sem entusiasmo o que encontraria na plenitude da sua própria essência, no seu poder do feminino.

Urge a necessidade do autoconhecimento, da busca de si mesma para que o crescimento aconteça naturalmente, assim a felicidade e a paz se estabelecerá na alma. É comum ouvirmos a frase: “ Ninguém ama a quem não se ama,” pura verdade. Ninguém se sente bem ao lado de uma mulher amarga, neurótica e desequilibrada, bem como do homem também. A dor, o sofrimento, as necessidades materiais, as traições são um fato real na vida de qualquer um, mas não são justificativas para o desequilíbrio. Quando estamos centradas na nossa essência, a Mãe Dor se manifesta de forma serena e com a luz da mudança. Entretanto, quando estamos mergulhadas no pântano das emoções, a nossa alma está fechada para a luz , não nos permitindo ver além da dor. Eu costumo dizer às bruxinhas que me rodeiam que: “O maior desafio da mulher é ser mulher”. – É virar-se pelo avesso em busca do seu eu verdadeiro, é um caminho árduo e muito difícil, mesmo porque nunca aceitamos o que encontramos verdadeiramente, quem somos e como somos. Surpreendemo-nos com as fantasias do nosso ego e dos nossos sentimentos. Depois vem a grande batalha da transformação. Muda daqui muda dali e a Mãe Dor se faz presente de diversas formas e fórmulas. Mas a mulher despertada para sua Deusa interior, caminha serenamente entre a dor e as verdades da alma, consciente da meta estabelecida e da plenitude a ser alcançada. Entretanto, é importante se ter conhecimento dos combates do caminho, sem perder a alegria das descobertas que estas promovem, o que torna o caminho mais alegre e envolvente de várias energias regeneradoras. A descoberta da nossa bruxa interior não é apenas descobrir uma religião sedutora e alegre. Ou seja, o religar com as coisas da Deusa Mãe, a natureza, mas é principalmente nos conhecermos, nos encontrarmos como MULHER, obtermos a devida consciência da nossa missão na terra. Tomarmos a real medida da nossa função de mantenedora da vida e da preparação da sociedade futura. Lembrando sempre que é a mulher que pari o homem, que cria e o educa para a vida. O homem será sempre o resultado da formação e informação que recebe da mulher que lhe concebeu, ou a que lhe criou, que lhe amamentou e lhe enviou para a vida. A mulher da atualidade deve buscar interiorizar o sentimento primário de que ela é a própria expressão da natureza. Desenvolvendo, assim, uma aura luminosa em torno de si, de auto - respeito e se fazendo respeitar em todos os níveis; sexual, profissional, religioso e principalmente na sua mais divina missão, a maternidade. Está na hora da mulher moderna desmistificar o velho e protetor Príncipe Encantado, aquele que a salva de um destino cruel e assim vivem felizes para sempre. É bom lembrar que nestes novos tempos, o Príncipe Encantado é o velho e bom diploma profissional e a Universidade é o casamento que garantirá um futuro, se não feliz para sempre, mas pelo menos será a chave do castelo, que facilitará o abrigo físico e o provento necessário. Quanto ao cavalheiro montado em um cavalo branco, que dará beijos mágicos e sedutores, estará naturalmente no caminho, como parceiro na mesma meta. Porque ele também já perdeu a fantasia de encontrar a bela Princesa indefesa, que espera pela sua viril companhia. O Príncipe destes novos tempos também já se desencantou com sua bela e frágil Princesinha, e está procurando uma MULHER, que seja parceira, guerreira, companheira, cúmplice e principalmente um ser humano. Já não está mais esperando encontrar a sua futura patroa, a sua senhora, a rainha do lar ou a dona de casa simplesmente. Ele busca encontrar aquela com quem vai dividir a vida, no sentido real da palavra dividir: proventos, emoções, os prazeres do corpo e a função divina de perpetuar a raça humana. Outro aspecto que a mulher não deve negligenciar é o sentimento de culpa que normalmente se desenvolve a partir de um relacionamento frustrado. Por muitos motivos de condicionamento educacional nas últimas décadas, a mulher mergulhadora do pântano das emoções, desenvolve sentimentos de culpa ao término de uma relação, culpando-se por este ou aquele motivo. Assim, deve-se criar o hábito de analisar serenamente as questões de ambos os lados, sem deixar-se levar pelo vitimismo, mal que acomete a maioria das mulheres. É necessário que a mulher, busque amar com transparência e com o coração. Só assim se tornará livre e plena para usufruir verdadeiramente de uma parceria de amor. Quando se ama com o fígado no lugar do coração, corre-se o risco de trazer o amargor do fel para a relação, transformando um convívio que poderia ser livre e gostoso em uma relação neurótica e sofrida. Cheia de cobranças, deveres e obrigações. O amor traz antes de qualquer obrigação, a liberdade. A plenitude está na sabedoria de vivenciá-la. Uma bruxa sabe que não existe sobrenatural, muito pelo contrário, tem a consciência de que tudo é natural. Ver, ouvir, perceber e sentir além dos sentidos físicos é meramente uma questão de treinamento e fé. Assim, a ligação, a leitura dos sinais da Grande Mãe, é uma questão de aprendizado e exercícios constantes. A Bruxa moderna, depois do despertar da sua Deusa interior, busca desenvolver através das suas descobertas o sagrado e o divino do seu equilíbrio feminino, a partir da tomada de consciência que o bem e o mal fazem parte da energia universal. Cabendo a cada Mulher, desenvolver o equilíbrio, sem camuflagens do ego e vaidades supérfluas. Cabe a mulher Bruxa, estar atenta às agressões a natureza, defendê-la e protegê-la. Tendo sempre em mente a responsabilidade ao educar seus filhos, de informá-los sobre as agressões impostas à natureza pela evolução tecnológica irresponsável. Bem como no que diz respeito à ciência sem ética, a que vai de encontro às leis que regem o universo. Não cabem mais na nova sociedade rótulos tais como: “A mulher é inimiga da própria mulher”, ou “ se quiser ver seus ideais irem por água abaixo, conte a uma mulher seus objetivos,” essas e outras frases de efeito semelhante, são ainda resquícios de um tempo de opressão patriarcal, que subjuga a mulher a condição de um ser menor, sem personalidade, influenciável. Sem contar com a estratégia por trás de tudo isso que é exatamente de criar conflitos entre a massa feminina para enfraquecê-la na sua força de união. Precisamos estar atentas também a todas essas e outras heranças culturais medievais do poder masculino, ainda muito enraizadas na nossa cultura formativa. Não estamos nesta guerra silenciosa por poder ou mesmo por querer ocupar o lugar masculino, não, apenas lutamos pela nossa divindade de existir de forma plena, livre e verdadeira. Pelo nosso poder feminino que nos foi violentamente subtraído de formas tão cruéis. Negando até mesmo o nosso poder de parir, quando instituíram a origem da mulher, extraída da costela de um homem, negando assim a divindade da maternidade da nossa Mãe criadora. Negando o nosso útero. Transformando a nossa função sagrada de menstruar em algo sujo e pecaminoso. Somos fortes quando temos a real consciência da grandiosidade do rio de sangue que corre nas nossas entranhas que dá origem a vida, como o líquido sagrado dos rios e mares, a água que corre nas entranhas da grande Mãe. Somos simplesmente mulheres e, como tais, queremos existir com todas as características que faz de nós esse ser singular.

 Somos bruxas.